MATÉRIA dos sites Folha de S. Paulo e Bol Notícias sobre escritores que se sobressaem na divulgação de seus livros na Bienal, entre eles Edson Rossatto

Na Bienal, Freddy Krueger, Jason e humor são trunfos de escritores desconhecidos

Matéria original publicada nos sites FOLHA DE S. PAULOBOL NOTÍCIAS em 12 de agosto de 2012

Em entrevista à Folha na semana passada, o escritor Cristovão Tezza declarou que, para um autor pouco conhecido, o pior lugar para se lançar um livro é a Bienal. "Ele desaparece dentro daquele gigantismo", disse.

Diante de tantos nomes consagrados e campeões de vendas internacionais, conseguir "aparecer" vira uma questão de vida ou morte para os iniciantes.

No caso de Ricardo Ragazzo, 37, quase literalmente. Para divulgar seu livro, o suspenSe "72 Horas para Morrer" (254 págs.; R$ 29,90), ele contratou duas pessoas para se fantasiarem de dois dos maiores assassinos do cinema: Jason ("Sexta-feira 13") e Freddy Krueger ("A Hora do Pesadelo"). Os custos da propaganda foram divididos com sua editora, a Novo Século.

Na tarde deste domingo (dia 12), pessoas faziam fila para tirar foto com os famosos psicopatas. Nem todas compram os livros, mas Ragazzo diz que o saldo é positivo.

"No sábado, sem eles, eu autografei uns dez livros. Hoje já foram 30. A gente tem que pensar em coisas novas para aparecer um pouco."

No estande da Giz Editorial, sem as garras de Freddy Krueger ou o facão de Jason, Edson Rossatto, 34, apelou para outra arma: o humor.

Ao primeiro visitante desavisado que passa por perto, ele já levanta um cartaz com o seguinte texto: "Eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando, eu poderia estar pedindo, mas sou escritor e detesto gerundismo".

Se a pessoa esboça um mínimo sorriso que seja, ele já mostra um outro texto: "Já que gostou, posso te mostrar meus livros?".

Quase todos deixam. O difícil é conseguir sair depois, ainda mais sem comprar nenhum livro. "O dia que ficar famoso e for no programa do Jô Soares, vou falar que nós somos grandes amigos", promete aos possíveis compradores.

"Aqui tem 3 milhões de livros concorrendo com os meus. Nós temos que insistir mesmo", explica.

Rossatto lança dois livros na Bienal, as coletâneas de crônicas "Toques Para Mulheres" (Giz Editorial; 144 págs.; R$ 19,90) e "Cem Toques Cravados" (Editora Europa; 272 págs; R$ 29,90).

Diz que no sábado vendeu 70 exemplares. "Se ao longo da Bienal vender isso todo dia, quase que vendo minha edição inteira."

Ele diz se inspirar no exemplo de Thalita Rebouças, hoje sucesso entre leitores adolescentes, que começou sua carreira divulgando seus livros na Bienal.

"Quem sabe na próxima feira eu também estarei sendo disputado a tapa pelo público?"

Samanta Holtz e Leandro Filho tentam uma tática mais discreta. Ambos publicaram seus primeiros livros neste ano, pelo programa Novos Talentos da Literatura Brasileira, da Novo Século.

No estande da editora, eles ficam próximos aos livros, conversando com quem passa.

Filho, 16, é autor de "Asgard - O Poder Esquecido" (248 págs.; R$ 34,90). Ele já escreveu a continuação e agora prepara o terceiro capítulo da saga sobre fantasia e mitologia.

Ele aproveita para divulgar o livro na Bienal durante o fim de semana, já que de segunda a sexta dedica todo tempo à escola.

Holtz, 25, costumar perguntar a quem passa pelo estande: "Gosta de romances históricos? Eu escrevi um". Trata-se de "O Pássaro" (480 págs.; R$ 39,90).

Quem compra leva também um marcador de página em forma de pássaro.

"O nosso diferencial é conversar com o leitor, contar como é a obra. Não fico insistindo. E a pessoa já leva o livro autografado. São coisas simples, mais é uma forma de o autor desconhecido conseguir leitor."