CONTO: "Domingo no Shopping", de Edson Rossatto

— ...mas na praça de alimentação?
— Ué, e o que que tem? Depois a gente pode ir fazer compras no shopping.
— Mas, mãe, e sua dieta? Esses lanches engordurados, cheios de calorias e gordura...
— Nossa, você falando assim me deu vontade de comer um Big Mac!
— Ah, claro, já que é pra furar o regime, que seja com o símbolo dos obesos mesmo.
— Ah, filhinha, como você é dramática. Vai querer um também?
— Eu não estou de dieta, claro que quero
— Anda, vem aqui comigo no balcão.
— Estou logo atrás da senhora.
— Boa tarde, senhora, qual é o seu pedido?

— Ah, vamos lá: dois número um com guaraná.
— Batata grande por apenas cinquenta centavos a mais?
— Ah sim, por favor!
— Sunday como sobremesa?
— Prefiro milk shake
— Pequeno ou médio?
— Médio.
— Um ou dois?
— Dois.... ai! E aproveita e coloca mais um número um! Puxa, filha, tava me esquecendo do seu lanche!
— Os dois primeiros eram só pra você, mãe?
— Eram sim.
— Ai, meu Deus!
— São cinquenta reais e oitenta centavos, senhora.
— Nossa, que roubo! Não dá mesmo para pra comer fora. Não tenho trocado. Só sessenta.
— Sem problema, eu tenho troco. (...) Seu troco, senhora. Gostaria de aproveitar e contribuir com Instituto Ronald McDonald's?
— Não confio naquele palhaço amarelo!
— Mãããe! Ai, que mico!
— Tenha uma boa tarde, senhora!
— Anda, filha, pega uma mesa pra gente sentar.
— Tá tudo lotado.
— Olha lá mais pro fundo, quem sabe tem uma mes... ei! Socorro! Ladrão!
— Caramba, mãe, ele meteu a mão na bandeja!
— O safado levou meus Big Macs! Socorro! Fui roubada!
— Algum, problema, senhora?
— Ai, que bom que tem um segurança aqui. Escuta, moço, eu estava aqui agora procurando uma mesa e veio um moleque safado e levou o meu lanche. Ele passou correndo e pegou a caixinh... o senhor tá rindo?
— Não senhora.
— Tá rindo sim! Acha engraçado as pessoas terem sua fonte de alimentação roubada?
— Não senhora.
— E por que tá rindo?
— Não estou rindo, minha boca é assim.
— Sua boca é torta?
— Mãããe!
— Nossa, que curioso! Você tem um sorriso estampado no rosto.
— Bem, é...
— Quando o senhor está triste deve complicar, né?
— Mãããe!
— Não é curioso, filha?
— Mãe, não me faz passar vergonha!
— Você se envergonha com tudo também, né?
— Senhora, venha comigo.
— Aí, filha, ele vai resolver nosso problema.
— A gente tá indo pra fora, mãe. Ele tá resolvendo o problema do shopping!