ARTIGO: Dica Simples a um escritor iniciante, de Edson Rossatto

Trabalhar como editor de livros aqui na Andross Editora por sete anos me propiciou a oportunidade de receber todos os tipos de textos, desde os mais sofríveis até os mais bem acabados. O tipo de erro mais frequente é o que eu chamo de texto "café ruim".


Costumo comparar a produção de um texto com a feitura de café, em que o pó é a essência da história e a água são as palavras utilizadas para contá-la. Se a água é pouca, o pó não se dilui, deixando um sabor demasiadamente forte e amargo; se a água é muita, o pó se perde em meio ao líquido, deixando um gosto desagradável ao paladar do degustador. É preciso utilizar a medida certa a fim de que o produto se torne aprazível ao leitor.



Em muitos textos que recebo aqui, o autor tem o argumento de uma saga inteira, mas a conta com poucas palavras, deixando o texto quase como uma sinopse. E o contrário também acontece.


O escritor tem um argumento para um conto, mas exagera nas descrições dos personagens, dos locais e afins, tornando o texto do tamanho de um romance. A leitura acaba ficando muito cansativa.


Enfim, é preciso passar a mensagem com a quantidade de palavras suficiente para não ser prolixo ou conciso demais.


Ao longo da História, diversos intelectuais defenderam essa idéia à sua maneira: Isabel Allende, escritora chilena, certa vez, comentou que, em suas narrativas, procura usar o substantivo certo para evitar dois ou três adjetivos. Thomas Jefferson, terceiro presidente dos EUA, em uma de suas célebres citações, com outras palavras, compartilha da mesma opinião: O mais valioso de todos os talentos é aquele de nunca usar duas palavras quando uma basta.


É preciso haver um retrabalho constante, procurando sempre deixar no texto o que realmente não puder faltar à compreensão da história, e esse labor leva tempo, como defendia Blaise Pascal, filósofo francês: Se escrevi esta carta tão longa, foi porque não tive tempo para fazê-la mais curta.


Se eu pudesse dar apenas um conselho a um jovem escritor esse conselho seria baseado em citações de dois célebres escritores: Ernest Hemingway e João Cabral de Melo Neto.


Hemingway dizia: “Corte todo o resto e fique no essencial". Já Melo Neto defendia: “Enxugar até a morte".


Edson Rossatto,
Editora da Andross
E é exatamente aí que mora o problema. Para um jovem escritor, TUDO é indispensável. Ele é resistente em diminuir seu texto. Em sua opinião, ele não está "lapidando" sua obra e sim "mutilando-a". Será um bom escritor aquele que compreender a diferença entre lapidar e mutilar uma obra. Fica a dica.


EDSON ROSSATTO