ENTREVISTA de Edson Rossatto para o site Papo de Boteco

Nessa segunda entrevista do Papo com o Talento, tenho o prazer de mostrar o papo que tive com Edson Rossatto, autor do livro "Cem Toques Cravados" e editor da editora Andross. Edson também tem alguns blogs bem legais e é roteirista. Espero que gostem!

Edson, primeiramente muito obrigado pela "visita". Comece falando um pouco do seu trabalho como editor de livros. Como essa experiência contribuiu para a sua própria produção literária? Como é tomar contato com outros autores jovens?
Na verdade, eu me tornei editor depois de ser escritor. Eu já conhecia o lado dos escritores e essa experiência editando livros de outros escritores me ajudou a enxergar o lado do editor. Hoje, quando vou escrever uma obra, avalio não só a história, mas também a que público se destina, como poderei divulgá-la e outras coisas que só os editores conhecem. Acredito que me tornei um profissional melhor ao conhecer esses dois lados do mercado editorial.


O que o aproximou do "mundo dos livros"?
Eu era muito mentiroso quando menino. Com o tempo, passe a canalizar essa facilidade em inventar histórias na escrita de livros.

Recentemente, você lançou o livro "Cem Toques Cravados", uma coletânea de nanocontos que, como diz o título, possuem exatamente cem toques. Como surgiu a idéia de contar histórias de forma tão concisa e disciplinada?
Sempre fui muito objetivo. Inclusive na escrita. Muitos escritores têm o péssimo hábito de "encher linguiça", e isso sempre me irritou. Na faculdade, aprendi umas técnicas de concisão e coesão textual e as incorporei na minha escrita a ponto de desenvolver uma história completa com apenas cem caracteres. A partir daí, me impus o desafio de escrever esses nanocontos e publicá-los na internet no blog www.cemtoquescravados.com e no twitter @cemtoques. Houve uma aceitação muito grande e a publicação do livro foi inevitável.

Com o que a Internet e os e-readers estão contribuindo para o desenvolvimento do mercado literário?
Acredito que sem a internet o projeto Cem Toques Cravados não existiria ou não teria o mesmo alcance. O que escritores e editores têm de entender é que uma tiragem de livros impressos tem uma média de 3000 livros, então o alcance desse livro é de apenas 3000 pessoas. Mas a publicação na internet alcança milhares, milhões de pessoas em questão de minutos. Aquele profissional do livro que não se atualizar e não incorporar as novas mídias, como internet e e-readers, poderá ser superado por elas. É muito significante o aumento de leitores de plataformas digitais. Não acho que o livro impresso vá acabar. Mas com certeza haverá uma coexistência das mídias impressas e virtuais.

A idéia dos nanocontos pode ser um bom exercício de criação de "imagens". Houve alguma inspiração no haiku, poesia tradicional japonesa?
Os nanocontos estão para a prosa o que os haikus e haikais estão para o verso.

Você também é roteirista da série "História do Brasil em Quadrinhos". Esse parece ser um projeto divertido de se participar, em que se aprende muito.
Outra paixão minha é História. Adoro História! E como alguns amigos meus costumam me definir como um escritor versátil, recebi a proposta da Editora Europa de criar uma HQ sobre a História do Brasil. Pensei "E por que não?". Comprei vários livros que ensinavam teorias de roteiro e os devorei. O resultado são os dois volumes dessa série, um sobre a Independência do Brasil e outro sobre a Proclamação da República. Gostei muito de fazê-los. Os desenhos do Laudo Ferreira Júnior e as cores de Omar Viñole só trouxeram maior riqueza à trama. E no volume da Independência tive o prazer de ter o jornalista Jota Silvestre como co-roteirista. Enfim, acredito que tenha ficado um trabalho excelente, de fácil compreensão e elucidativos para jovens e crianças (e muitos adultos!).

Você criou e é organizador do evento "HQ em pauta", que já está indo para a terceira edição. Como tem sido a receptividade? Como anda a produção brasileira nesse mercado?
Esse evento foi muito bem recebido por aqueles que leem e também por aqueles que produzem quadrinhos, pois é um espaço aberto a discussões sobre vários assuntos recorrentes ao mercado editorial de HQ. E ele chegou em boa hora, pois houve um boom na produção nacional de quadrinhos, uma vez que os governos estão incentivando financeiramente parte dessas produções. Ainda bem, pois tem muita gente talentosa por aí esperando por uma chance.

Como é sua relação com o cinema? Que produções ou diretores têm chamado sua atenção?
Gosto muito de cinema e séries. E de novelas também. Aliás, gosto de uma boa história, não importa a mídia. Mas tenho um carinho especial pelo cinema. Tanto é que meus livros são sempre pensados como filmes. Literalmente visualizo a cena na minha cabeça e a descrevo no livro, inclusive com cortes rápidos. Me identifico muito com o editor Christopher Nolan. Até hoje não encontrei um filme dele que eu não tivesse achado fantástico.

Você teve o conto "Cartas a um Irmão" adaptado para um curta-metragem. Fale do conto e o que achou do resultado.
Sempre que eu aprendia algo novo na faculdade eu tentava praticar. Foi assim com haikais, com poemas concretos e outras coisas. Uma vez ouvi falar de "conto epistolar" em que a história é contada indiretamente por intermédio de cartas. Fiquei intrigado e fui lá escrever minha própria história. O resultado é o conto "Cartas a um irmão", que eu publiquei em seguida na internet. Em pouco tempo, alguns alunos do curso de Rádio e TV da Unesp entraram em contato comigo me perguntando se poderiam adaptar para o cinema em um trabalho de faculdade. Ele fizeram a adaptação e fiquei impressionado com o resultado.

O que há em comum entre o desenvolvimento de roteiro para quadrinhos e o roteiro para a tela grande?
Acredito que fazer um roteiro de quadrinhos tem uma grande vantagem em relação ao roteiro de cinema: orçamento. Se eu quiser que um prédio exploda nos quadrinhos, basta colocar no roteiro que o desenhista vai lá e desenha. Já no roteiro de cinema o roteirista tem de prever quanto vai custar a produção da cena que quer e quanto de verba eles têm em caixa. Muitas vezes, por conta da verba baixa, a cena tem de ser reescrita.

Quais são suas decepções e suas surpresas positivas, no que se refere a adaptações da literatura para o cinema?
O problema de certos roteirista e diretores é querer melhorar o personagem do livro ou do quadrinho. Na maioria das vezes, o resultado é negativo. Entendo e aceito que coisas imaginadas para o papel nem sempre ficam bem em tela grande, mas há uma tendência do roteirista e do diretor de fazer a coisa do seu jeito, não porque precisa adaptar, mas para deixar sua marca. Coisa de ego mesmo.

Seu novo projeto é o blog http://www.toquesparamulheres.com/. Qual o conceito e como tem sido a receptividade dele?
Alguns amigos meus dizem que tenho mais amigas do que amigos. Partindo desse principio, passei a escrever crônicas bem humoradas sobre o universo feminino. São histórias que ouço delas e dou minha opinião. Acredito que elas têm gostado, pois quade todos os leitores desse site são mulheres. Em breve, vou transformá-lo em livro

O conceito do nosso site, além de trazer notícias e entrevistas sobre variedades, passa por reunir idéias dos seus 4 autores, como se estivessem conversando informalmente em um bar. O quê você costuma fazer em seus momentos de lazer?
Adoro tomar café e jogar conversa fora! Quando quiser, me chame e tomamos um café juntos.

Muito obrigado pela entrevista com o Papo de Boteco, Edson. Pra terminar: na vida, o que te faz pedir mais uma "saideira"?
Esperança. Sempre, em tudo. Até mais!